Assalto. Wellington e Nélson, de 24 e 32 anos, de Minas Gerais, não tinham cadastro em Portugal nem no Brasil. Um acabou por morrer no assalto ao BES, o outro está a recuperar em São José e arrisca-se a uma pena de dez anos de prisão
Telefonema de familiar alterou rumo da intervenção policial
Os dois sequestradores, de 24 e 32 anos, Wellington Rodrigues Nazaré e Nélson Souza, ambos brasileiros, que mantiveram reféns dois funcionários do BES durante mais de nove horas, na quinta-feira, acreditaram até ao fim que conseguiriam fugir. De acordo com o que apurou o DN, o carro estacionado à porta da agência bancária, com os piscas ligados, terá sido o "isco" para atrair os indivíduos até à rua, fazendo-os acreditar que poderiam usá-lo para fugir. Ontem, em conferência de imprensa, a direcção nacional da PSP não assumia esta versão, afirmando que o veículo se encontrava ali por acaso, desconhecendo-se o proprietário.
O discurso dos negociadores foi sempre no sentido de os agressores se entregarem e salvaguardarem a da vida dos reféns. Aos dois homens foi dada toda a informação possível do que a polícia poderia ou não aceitar, inclusive o quadro criminal em que incorriam se o caso tivesse consequências de maior. Ou seja, 20 a 25 anos de cadeia, se houvesse mortes ou apenas três anos ou pena de multa se se rendessem e ficassem pelo sequestro. Tanto um como outro não tinham cadastro em Portugal nem no Barsil.
Mas os homens insistiram na viatura para fugir e nunca largaram o dinheiro que roubaram do cofre nocturno, após o terem arrombado e partido. O sinal de que já nada havia a fazer surgiu ao final da tarde, quando a polícia no local foi contactada pelo primo de um dos autores do sequestro. Esse familiar recebera um telefonema de Wellington dizendo que se matava se fosse apanhado. Até esta altura, a polícia satisfez todos os pedidos dos sequestradores, inclusive o de terem água e comida - que foram deixadas à porta do banco.
Depois deste dado, a negociação teria de mudar. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, foi informado do desfecho que a situação poderia ter e terá dado ordem para que fossem tomadas todas as medidas policiais adequadas para salvaguardar a vida dos reféns. Por isso, horas depois e assim que os indivíduos assolaram à porta da agência e ficaram na mira dos snipers para um tiro limpo, a ordem do comandante metropolitano de Lisboa, Jorge Barreiras, foi para disparar.
"Não havia mais nada a fazer", disse ao DN uma fonte policial. "Se por qualquer hipótese os sequestradores conseguissem sair com os reféns e tentassem apanhar o carro, as consequências seriam muito mais graves". A partir daqui, o objectivo da negociação mudou, passando a ser o de os conseguir atrair até à rua ou a algum ponto que os tornasse alvos visíveis. Às 23.23 os snipers conseguiram tê-los na mira.
Ao longo do tempo, os agressores foram demonstrando inexperiência, seriam "até quase infantis", o que revelou à polícia que não estariam a lidar com profissionais do crime organizado e que a qualquer momento podiam actuar de forma descontrolada. Estavam dispostos a tudo para fugir, mesmo a perder a vida. No entanto, o facto de não serem profissionais não os impediu de se terem preparado minuciosamente para o acto, nomeadamente com armas, algemas de plástico e panos negros, usados habitualmente para tapar a cabeça dos reféns e dos agressores. Desta forma, "os alvos não estavam diferenciados e a polícia nunca atiraria, o que prova de que sabiam a como actuar ", explica uma fonte policial. Os dois homens estariam em Portugal ilegalmente, um há um ano e o outro há apenas dois meses e já poderiam ter cometido mais crimes. A Judiciária, numa busca à casa que Wellington partilhava com o primo, na zona do Conde Redondo, terá encontrado cerca de dez mil euros - muito para quem trabalhava na construção civil - bem como perucas, luvas e algemas de plástico. Estes crimes anteriores estão ainda a ser investigados pela PJ.
Assaltos a bancos subiram quase 100%
Roubos. Criminalidade bancária foi das que mais subiu nos primeiros seis meses
Em Portugal, os assaltos a bancos subiram quase 100% nos primeiros seis meses deste ano, comparativamente ao mesmo período do ano passado. Só o roubo de caixas multibanco já ultrapassou um crescimento de mais de 120%. Lisboa e Setúbal foram os centros, onde mais uma vez este tipo de crime disparou.
De acordo com fontes ligadas ao sector da banca, o número de assaltos aumentou, mas diminuiu o volume de dinheiro roubado, graças aos sistemas de segurança e de funcionamento que as unidades bancárias têm vindo a adoptar.
Fonte da Judiciária confirmou ao DN este aumento significativo na criminalidade bancária. No entanto, salvaguardou que estas percentagens poderão não ser as mesma no final do ano, se houver uma redução em termos de actos a partir de agora. A mesma referiu ainda que os "grupos organizados que actuavam nesta área estão quase todos desmantelados. O que há agora são mais actos praticados por solitários", o que também pode tornar esses actos mais violentos. "Os solitários são mais inexperientes e podem ser mais violentos", quando perdem o controlo da situação. Neste momento, a PJ também tem mais casos resolvidos. "À medida que os solitários vão sendo detidos, vamos identificando outros assaltos cometidos", explicaram-nos.
Um dado que segue a tendência descrita por fontes da banca de que "há menos volume de dinheiro roubado, mas mais violência nos actos". Esta tendência de subida não corresponde à que é transmitida pelo Gabinete Coordenador de Segurança.
O responsável, general Leonel de Carvalho, confirmou ao DN haver um ligeira subida deste tipo de crime, embora não houvesse ainda "percentagens correctas já que os dados só no final do ano é que serão avalizados". Contudo, sabe-se que até Junho, segundo os registos do GCS, ocorreram 87 assaltos a dependências bancárias em todo o País.- A.M.I.
Fonte: http://dn.sapo.pt/2008/08/09/cidades/carro_isco_para_atrair_assaltantes_a.html