Abrantes. A família dos cinco suspeitos de terem atacado e roubado uma 'shotgun' a agentes da PSP é temida pelos vizinhos, que dizem ter medo deles. A arma retirada à polícia foi ontem encontrada. A audição dos arguidos no tribunal estava prevista para ontem, mas foi adiada para esta manhã
Família de suspeitos faz aumentar crimes
Conhecidos em Abrançalha de Baixo, no concelho de Abrantes, como os "talibãs", os elementos da família suspeitos de terem agredido no Entroncamento dois polícias e roubado uma shotgun e atingido a tiro outro agente, são acusados de "aterrorizar a população, que vive com medo deles". A denúncia é feita por vários residentes e comerciantes, que recordam ter aquela povoação sido sempre "muito pacata. Só deixou de ser desde há uns sete anos, quando eles vieram para cá morar". Por isso mesmo, querem vê-los fora dali. São unânimes a considerar que "isto melhorava muito se eles fossem embora".
Nas imediações do número 6 da Rua Principal da Abrançalha, casa onde vive a família de suspeitos em que se refugiou Bruno e serviu de palco ao tiroteio de domingo, havia ontem alguma confusão, com várias pessoas no café Tatá, situado duas portas ao lado, a comentarem o que ali se tinha passado na véspera.
Na casa onde tudo aconteceu, a equipa de reportagem do DN abordou uma mulher que recusou falar e fechou a porta, limitando-se a dizer que "isto são tudo boas pessoas".
Henrique Gonçalves, que explora o café Tátá desde há dois anos, conta ao DN que o estabelecimento "já foi assaltado duas vezes este ano, quando estava fechado, de madrugada, e ninguém deu por nada. Depois veio cá a PJ, ainda não se sabe nada".
"Abriram os fechos das portas das traseiras e levaram a máquina do tabaco, a máquina das bolas de chocolate e de brindes. Estiveram sentados numa mesa a beber sumos e a comer Bollycaos. E deixaram uma nota escrita dirigida a uma empregada que aqui trabalhava, insultando-a com palavrões", lembrou o comerciante. Acrescenta que a máquina do tabaco "apareceu depois vazia - sem tabaco nem dinheiro - num poço nas traseiras do café".
Vivem do rendimento mínimo
Segundo explicou, "eles são conhecidos na zona pelos 'talibãs', porque criam mau ambiente e geram confusão quando estão em grupo". E dá um exemplo: "Às vezes convido amigos para virem cá ao café e eles recusam. Dizem logo que depois é uma chatice, porque estão lá os talibãs. E eles passam muito tempo no café, porque não trabalham nem fazem nada. Vivem do rendimento mínimo."
Salienta que "eles são bruscos e violentos a falar. Dizem que fazem e acontecem e são ameaçadores. As pessoas ficam com medo e até quem mora aqui perto não vem ao café porque tem medo deles".
"Eles até já têm ordem de despejo. Em Janeiro ou Fevereiro, o senhorio foi dizer-lhes que tinham de sair da casa e eles deram-lhe uma sova", recorda Henrique Gonçalves.
"Aterrorizam as pessoas. Os moradores não se sentem bem a viver com eles aqui. Sou daqui de Abrançalha de Baixo e conhecia isto antes de eles virem para cá morar. Era mesmo pacato. Há oito anos mudei-me para Rio de Moinhos e até cheguei a pensar em voltar. Mas não. Com eles cá não pode ser", diz o comerciante. E conclui: "Se saírem daqui, isto fica melhor e o café até será mais rentável."
Portas e janelas fechadas
A mesma opinião tem António José Costa. "Moro aqui há sete anos e isto sempre foi uma terra pacata, sossegada e calma. Pouco depois, desde que eles vieram para aqui viver, isto ficou pior, com assaltos à escola primária, ao bar da Associação de Moradores de Abrançalha e ao café", contou, salientando que "na semana passada até andaram a roubar torneiras".
"Os moradores têm medo deles", referiu, salientando que "agora já ninguém dorme com as portas nem as janelas abertas."
Revela que aquela "é uma família meio estranha e esquisita. Vieram de Limeiras, perto de Constância e vivem naquelas duas casas, coladas uma à outra, mais de 15 pessoas, entre avós, pais, netos, tios e sobrinhos. Também têm muitos miúdos pequenos. Pelo menos o Bruno ia todos os dias buscar a filha à escola primária".
Apoiado no balcão do café Tátá, António José Costa confessa: "Sempre os achei estranhos, mas nunca pensei que pertencessem a um gang".
Sobre os acontecimentos de domingo, recorda que "o trânsito foi cortado nas ruas da zona. Estavam muitos carros da polícia à civil e duas carrinhas da polícia de intervenção. Havia mais de cem polícias. As hortas aqui atrás estavam cheias de polícias. Aquilo durou até à meia-noite".
Depois do tiroteio, os polícias entraram na casa e "viraram tudo do avesso. Havia sangue e buracos de balas nas paredes", disse este residente.
Esclareceu que os suspeitos "moram todos aqui, naquelas duas casas, excepto um, que é tio do Bruno e vive nos Riachos (Torres Novas), a cerca de 30 quilómetros daqui, e veio cá no domingo à tarde. Andou por ali no meio da multidão, os polícias suspeitaram dele e também o levaram".
http://dn.sapo.pt/2008/07/29/cidades/populacao_abrancalha_aterrorizada_pe.html