Polícia
GNR evita linchamento de quatro estudantes africanos
00h30m
RUI BONDOSO
Agressões, racismo e tentativa de linchamento popular este fim-de-semana, em S. João da Pesqueira. A GNR tomou conta das ocorrências e enviou o caso ao Ministério Público. A comunidade africana tem medo e teme represálias.
Foi um fim-de-semana violento em S. João da Pesqueira, no coração do Douro. Três homens queixam-se de ter sido agredidos por jovens estudantes negros. Uma agressão terá ocorrido sábado, as outras duas no domingo, dia em que meia centena de populares, de paus e varapaus nas mãos, cercou a casa onde quatro dos jovens se refugiaram, alegadamente para fazer justiça. O cerco durou cinco horas. Só acabou quando a GNR retirou os estudantes negros do interior da casa e os levou em segurança para pernoitar no posto policial.
Ontem, não se falava de outra coisa nas ruas da normalmente pacata vila de S. João da Pesqueira. Alguns familiares dos homens agredidos, exigem a expulsão dos jovens.
A pequena comunidade estudantil africana, oriunda de S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde, e que frequenta a escola profissional local (Esprodouro), anda com receio de represálias.
Um dos jovens, acusado das agressões, ausentou-se mesmo do concelho. Terá ido para Lisboa, para casa de amigos.
Dois dos agredidos apresentaram queixa na GNR, que enviou o caso para o Ministério Público. A direcção da Esprodouro, que fala em "caso pontual", e não admite tratar-se de uma ocorrência de contornos racistas, vai reunir-se hoje, ponderando no fim emitir um comunicado à população sobre o sucedido.
Os incidentes tiveram início ao fim da tarde de sábado. Pedro Ducas Pereira Dias, de 35 anos, conta que estava no passeio, em frente a um bar da vila, quando sentiu alguém cuspir-lhe para a cabeça de uma janela do primeiro andar.
"Subi para pedir explicações e encontrei duas raparigas negras. Quando falava com elas, apareceram dois rapazes, também negros, que me ameaçaram com tacos de basebol. Não me amedrontei. Enfrentei-os. Levei mas eles também levaram", recorda Pedro Dias. As escaramuças de sábado ficaram por ali.
No domingo, porém, novo incidente, mas com outros intervenientes. António José Lopes, de 56 anos, estava num café da vila quando viu um amigo ser agredido por "vários pretos".
"Fui lá tentar acabar com aquilo mas, mal chego, um deles desfere-me um murro no olho esquerdo. Até vi estrelas. Vi também uma navalha apontada para mim", recorda António Lopes, que teve de receber tratamento no hospital S. João, no Porto.
"Agora não os queremos cá", avisa o filho José Lopes, que no domingo soube do cerco à casa onde quatro dos jovens se tinham refugiado. "Não estive lá, mas eles deviam ter levado uma coça. Vêm para cá para estudar ou para arranjar problemas?", pergunta.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1026726